“Exagerado”: o homem de onde tudo é grande

|oi quinta-feira, 26 de novembro de 2015
| Por: Beatriz Facchini
| Fotos: Beatriz Facchini e Arquivo pessoal da família

Poses ao lado de objetos gigantes, lojas comercializando lembrancinhas com tamanho avantajado. Crianças e adultos degustando o picolé que leva o nome da cidade e saboreando com os olhos uma história de mais de 400 anos. A cena se repete todos os fins de semana no município de Itu, mas o que se esconde por trás deste título é o enorme talento de um comediante.



Ituano nato, Francisco Flaviano de Almeida, “Simplício”, como era chamado, iniciou sua carreira artística na década de 30 em circos e teatro. Sua paixão pela arte o levou para trabalhar em rádios, participar do primeiro programa criado especialmente para a televisão, na extinta TV Tupi, e passar por emissoras como Rede Globo, Rede Record, TV Bandeirantes e SBT. Já conhecido artisticamente no Brasil, na década de 60, Simplício deu início a fama de “cidade dos exageros” para Itu no programa “A Praça da Alegria”, apresentado por Manuel de Nóbrega, pai do também humorista Carlos Alberto de Nóbrega.


“Essa história de divulgar Itu começou porque ele se incomodava muito quando, em suas andanças pelo Brasil com o circo e o teatro, muitos diziam que Itu era ‘terra de gente que comia na gaveta¹’. Além disso, na época, a cidade estava passando por uma decadência nunca vista”, afima Francisco Jolkesky de Almeida, 54, filho de Simplício.

Em um dos quadros apresentados, o comediante interpretava um caipira que dizia mentiras sobre sua terra natal para contar vantagem sobre um homem da cidade grande. Entrava em cena com sua mulher, Ofélia, e pedia para que ela contasse o tamanho da abóbora em Itu. “Como todos os da época, o programa era ao vivo. Um certo dia, de improviso, ao invés de dizer ‘lá na minha terra’, como estava no script, ele disse ‘lá em Itu’. No mesmo momento, Manuel de Nóbrega disse
entre os dentes: ‘está promovendo, hein?’ e meu pai também respondeu entre os dentes: ‘claro, é minha terra’. Daí por diante, tanto Manuel quanto os donos da emissora permitiram que ele continuasse falando de Itu e assim o fez”, comenta Francisco.

No Centro Histórico da cidade, encontra-se um dos mais famosos pontos turísticos inspirado na obra de Simplício, que terá o centenário de seu nascimento completado no ano que vem. Com sete metros de altura, o Orelhão de Itu foi cedido na década de 60 pelo Ministro da Comunicação Higino Corsetti e instalado na Praça da Matriz pela Telesp. No mesmo local, também há um semáforo que funciona no cruzamento e que possui três vezes o tamanho de um normal.

A família mantém guardado algumas publicações antigas em que mostravam o trabalho de Simplício:











Em 2012, foi inaugurada também no município a “Praça dos Exageros”, localizada junto ao Centro de Lazer Franco Montoro. Além de interfone, caixa eletrônico em funcionamento, jogo de xadrez, playground e outras atrações gigantes, a Praça ainda conta com um grande boneco do comediante Simplício.




¹AFINAL, O QUE É COMER NA GAVETA?

Não era apenas o Simplício que ouvia que Itu era "cidade de quem come na gaveta". Pessoas que moravam em cidades como Mariana, em Minas Gerais, Cuiába, no Mato Grosso, Araras e Campinas também eram conhecidos como "gaveteiros". Antigamente, as grandes mesas de jantar das casas possuíam gavetas para guardar talheres e demais utensílios de cozinha. No entanto, o termo remete a alguém que esconde o prato que está comendo dentro da gaveta quando vê alguma visita chegando na casa. Essa locução popular acaba por ter o mesmo peso de chamar alguém de "pão duro" e "mão de vaca".

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